quarta-feira, 1 de maio de 2024

O protesto de operários há 100 anos que levou Brasil a adotar feriado do Dia do Trabalhador


 O período em que o advogado e político Artur da Silva Bernardes (1875-1955) ocupou o cargo de presidente do Brasil foi bastante atribulado.

Mobilizações populares e levantes marcaram aqueles anos 1920, com o início do Movimento Tenentista e a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, tornando conturbada a campanha eleitoral.

Já durante sua gestão, eclodiram episódios como a Revolta Paulista de 1924, a Revolta de 1924 no Rio Grande do Sul, a Revolta em Sergipe, a Comuna de Manaus, a Campanha do Paraná, a Coluna Prestes e a Coluna Relâmpago.

Bernardes presidiu o país de novembro de 1922 a novembro de 1926. Ele é o responsável pelo decreto, o mesmo vigente até hoje, que instituiu há 100 anos o feriado nacional do dia 1º de maio no Brasil, o Dia do Trabalhador. O documento, datado de 26 de setembro de 1924, tem apenas um artigo.

"É considerado feriado nacional o dia 1 de maio, consagrado à confraternidade universal A data ecoava o que já vinha ocorrendo em outros países, em alusão ao movimento grevista ocorrido em Chicago, nos Estados Unidos, em 1º de maio de 1886 — o episódio terminou em conflito com a polícia, sendo que houve trabalhadores presos e mortos.

"A relação de Artur Bernardes com o movimento operário é um tanto ambígua. Por um lado, ele era a favor de combater os movimentos de protesto com repressão e violência. Por outro, uma de suas plataformas de campanha foi avançar na criação de uma legislação que protegesse os interesses dos trabalhadores", diz à BBC News Brasil o pesquisador Paulo Rezzutti, membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

Artur Bernardes, em foto oficial de seu mandato

CRÉDITO,PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Legenda da foto,Bernardes também instituiu as bases do sistema previdenciário brasileiro

Rezzutti pontua que foi no governo Bernardes promulgada a chamada Lei Elói Chaves, que determinou a instituição de caixas de pensões e aposentadorias nas ferrovias e, mais tarde, em outros tipos de empresa.

"É um ancestral do nosso sistema previdenciário."

Também foi criado no período o Conselho Nacional do Trabalho, um órgão dedicado a discutir questões de interesse dos trabalhadores, como a jornada de trabalho e os sistemas de remuneração.

"Durante seu governo, foi proibido o trabalho de menores de 12 anos e surgiu a primeira lei determinando a obrigatoriedade de férias remuneradas", ressalta o pesquisador.

O historiador Paulo Henrique Martinez, professor na Universidade Estadual Paulista, classifica como "sempre tensa e com tímidos ensaios de aproximação, de natureza assistencial e demagógica, visando à domesticação da revolta e do protesto operário" a relação entre o governo Bernardes e o proletariado.

"Houve maior integração entre governo e interesses patronais, sobretudo no controle social dentro e fora das fábricas, de um lado, pela ostensiva repressão e engajamento da polícia com os empregadores e, de outro lado, pelo debate sobre a legislação trabalhista", contextualiza ele, em entrevista à BBC News Brasil.

"Esta ficou em banho-maria durante a década de 1920, oscilando entre propostas abertamente repressivas e a manipulação política, como o adiamento na atenção às principais reivindicações operárias, tais como melhores salários, jornada de trabalho, regulamentação do trabalho de crianças e de mulheres na indústria."

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