A tragédia da barragem em Mariana (MG), considerada um dos maiores desastres socioambientais ocorrido nos Brasil, completa, neste domingo (5/11), oito anos. No total, cerca de 1,5 milhão de pessoas foram atingidas direta ou indiretamente pelo mar de lama, sendo que 19 morreram. Atualmente, 700 mil vítimas lutam na Justiça pela reparação integral dos danos sofridos.
“A gente não entende onde está essa Justiça que fala que vai resolver e não resolve. Oito anos não são oito dias, é muito tempo de espera. Esse crime trouxe sofrimento e luta muito grandes. Não fomos preparados para nada do que aconteceu. Nossa comunidade era pequena, mas era alegre. Hoje, ela parece um lugar fantasma”, lamenta a quilombola Vera Lúcia Aleixo, 66 anos, moradora da comunidade ribeirinha de Gesteira, em Barra Longa, Minas Gerais, e vítima do rompimento da barragem de Fundão.
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) organizou a campanha intitulada “Revida Mariana”, cujo objetivo é fazer com que o crime não caia no esquecimento. Mais de 100 entidades da sociedade civil, do Espírito Santo, da Bacia do Rio Doce, do Brasil e do mundo fazem parte do manifesto.
“A imensa maioria da sociedade acredita que já foi resolvido o problema, que isso não é mais uma questão central socioambiental do Brasil. Nós estamos falando do que é o maior crime da mineração da história do mundo, um crime ambiental sem precedentes e que destruiu, basicamente, toda a quinta maior bacia hidrográfica do nosso país”, critica Heiter Boza, coordenador nacional do MAB e um dos porta-vozes da campanha Revida Mariana.
De acordo com relatório produzido em fevereiro de 2016 pela Força-Tarefa Barragem do Fundão, com base em dados da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad), que analisou os efeitos e desdobramentos do rompimento da barragem, os danos podem ser divididos em ambiental (qualidade da água, qualidade do solo e perda de biodiversidade), material (economia e infraestrutura) e humanos (saúde pública, segurança, educação, cultura, lazer e social) em escalas microrregionais e macrorregionais.
Danos ambientais
Ainda segundo o levantamento, o rompimento da barragem despejou mais de 50 milhões de metros cúbicos de material tóxico, aproximadamente, 46,3 mil piscinas olímpicas de rejeitos de minério de ferro e sílica, em 41 cidades e três reservas indígenas, em uma área equivalente a mais de 220 campos de futebol, na Mata Atlântica.
Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a análise de toda a área atingida pelos rejeitos de minério da barragem mostra que pelo menos 400 espécies da fauna e flora foram impactadas pelo desastre. Entre elas de 64 a 80 espécies de peixes; 28 de anfíbios; de 112 a 248 de aves; e 35 de mamíferos.
Na Justiça
Em 5 de novembro de 2015, o Brasil testemunhou uma das maiores tragédias ambientais e humanas da história: o rompimento da barragem de Fundão, na cidade de Mariana, Minas Gerais. Um evento que deixou um rastro de destruição ambiental que ecoa até hoje.
A barragem, de propriedade da Samarco, resultado de uma associação entre as gigantes da mineração Vale e BHP Billiton, continha resíduos de ferro. Naquele dia, um colapso liberou mais de 50 milhões de metros cúbicos de lama tóxica e rejeitos, conforme o Ministério Público Federal (MPF), e inundou comunidades, devastou o meio ambiente e causou a morte de 19 pessoas.
Nenhum dos 26 acusados foi punido. Os reassentamentos prometidos não foram concluídos, e as vítimas aguardam indenização.
Atualmente, 15 réus foram excluídos do processo criminal por decisões judiciais, e não respondem mais por nenhum crime. O interrogatório dos acusados, a partir de denúncia oferecida pelo MPF, começa nesta segunda-feira (6/11). O desfecho do caso está previsto para 2024.
São responsabilizadas as empresas BHP, mineradora anglo-australiana; Vale, multinacional presente em 20 países; e Samarco, associada da BHP e da Vale, responsável pela barragem de Fundão.
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