sexta-feira, 10 de outubro de 2025

A China busca acesso à principal base de lançamento de foguetes do Brasil para ampliar sua influência política, industrial e tecnológica na América do Sul, um movimento que preocupa os Estados Unidos

O avanço da China sobre a base de Alcântara expõe uma disputa silenciosa por poder: Pequim quer acesso à principal base de foguetes do Brasil para expandir sua presença política, tecnológica e militar na América do Sul

A corrida por poder e influência na América do Sul ganhou um novo palco — e ele fica no Maranhão.
Base de Alcântara, considerada a principal instalação de lançamento de foguetes do Brasil, transformou-se em um ponto de atenção global após o avanço das negociações entre China e Brasil.
Localizada próxima à Linha do Equador, essa base tem valor estratégico incomparável, e o interesse chinês em cooperar com o país nesse setor reacende o debate sobre soberania, tecnologia e disputas geopolíticas no Atlântico Sul.

A joia espacial do Brasil

Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) é uma das posições mais privilegiadas do planeta.
Por estar a apenas 2°18’ ao sul da Linha do Equador, os foguetes lançados dali aproveitam a rotação da Terra para economizar até 30% do combustível, tornando os lançamentos mais baratos e eficientes.
É por isso que a base, inaugurada nos anos 1980, foi disputada desde cedo por potências espaciais como Estados Unidos, Rússia, Ucrânia e, mais recentemente, China.

Para o Brasil, Alcântara representa o sonho de dominar o setor aeroespacial e reduzir a dependência tecnológica externa.
Mas, para países como a China, trata-se de um ativo geopolítico capaz de alterar o equilíbrio estratégico global, permitindo acesso a rotas de lançamento que hoje são dominadas por países do hemisfério norte.

Lançamento do foguete sul-coreano HANBIT-TLV a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão — realizado em 21 de dezembro de 2022 pela empresa Innospace, marcou o primeiro teste suborbital de um veículo híbrido lançado do Brasil. O foguete, com 16,3 metros de altura e 8,4 toneladas, utilizou combustível líquido e oxidante sólido, alcançando cerca de 100 km de altitude e demonstrando o potencial do CLA como plataforma internacional de lançamentos comerciais e militares próximos à Linha do Equador

Como a China entrou no radar de Alcântara

A aproximação chinesa começou de forma sutil, por meio de cooperações científicas e parcerias na área de satélites.
Desde 1999, o Brasil já mantém o Programa CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), que rendeu lançamentos bem-sucedidos e consolidou uma relação técnica sólida entre a CNSA (Agência Espacial Chinesa) e o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Entretanto, em 2025, o contexto ganhou contornos mais complexos.
Durante as tratativas envolvendo a troca de tanques, caças e artilharia oferecida por Pequim às Forças Armadas brasileiras, surgiram informações de que a cooperação espacial faria parte do mesmo pacote.
Fontes militares confirmaram que emissários chineses apresentaram interesse em acesso técnico e científico à Base de Alcântara, sob o argumento de criar um “programa conjunto de lançamentos orbitais e observação da Terra”.

Por que Alcântara interessa tanto a Pequim

O interesse chinês vai muito além de simples cooperação tecnológica.
Controlar, ainda que parcialmente, uma base tão próxima da Linha do Equador permitiria à China lançar satélites militares, comerciais e até de vigilância com menor custo, ampliando seu alcance sobre o hemisfério sul.
Além disso, o acesso a Alcântara reforçaria sua presença no Atlântico Sul, região estratégica por abrigar rotas marítimas e recursos energéticos cada vez mais disputados.

Pequim também enxerga Alcântara como uma oportunidade para aprofundar laços industriais e políticos com o Brasil, abrindo portas para investimentos em setores de defesa, mineração e telecomunicações.
Especialistas brasileiros alertam que o movimento faz parte de uma estratégia de longo prazo da China, que busca consolidar posições logísticas e tecnológicas fora da Ásia — algo semelhante ao que já ocorre com portos e bases de monitoramento na África e no Oceano Índico.

O que preocupa os Estados Unidos

Nos bastidores, Washington acompanha cada passo dessa aproximação com apreensão.
Os EUA possuem um Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) assinado com o Brasil em 2019, que regula o uso da Base de Alcântara por empresas norte-americanas e limita o acesso de outros países a tecnologias sensíveis.
Qualquer expansão de cooperação com a China poderia colocar esse acordo em risco e reabrir tensões diplomáticas.

Oficiais norte-americanos temem que a presença chinesa no Maranhão crie uma nova zona de influência, capaz de monitorar comunicações, satélites e rotas marítimas.
Em relatórios do Center for Strategic and International Studies (CSIS), Alcântara é citada como “um ponto de observação ideal para atividades espaciais e militares de médio alcance”.

Para o Brasil, o desafio é claro: como avançar tecnologicamente sem transformar a base em peça de barganha entre superpotências?

O dilema do governo brasileiro

Fontes do Itamaraty afirmam que, até o momento, não existe um acordo formal com a China envolvendo o uso de Alcântara, apenas conversas preliminares sobre cooperação científica e industrial.
Ainda assim, há preocupação dentro do governo de que qualquer movimento precipitado possa ser interpretado como alinhamento político a Pequim.

Por outro lado, setores das Forças Armadas e do Ministério da Ciência e Tecnologia defendem a ideia de uma “abertura controlada”, argumentando que o Brasil pode se beneficiar de investimentos e transferência de tecnologia sem comprometer a soberania.
O problema, segundo analistas, é que a linha entre parceria e dependência é extremamente tênue — e a história recente mostra que o poder econômico chinês costuma vir acompanhado de influência política.

Alcântara no centro da disputa global

Para a China, cooperar com o Brasil em Alcântara significaria fechar o ciclo de sua presença global: ela já tem bases de rastreamento em Djibouti (África), no Paquistão e no deserto de Gobi, mas falta-lhe uma posição no Atlântico Sul.
Para os Estados Unidos, significaria perder o monopólio de influência tecnológica na América Latina.
E, para o Brasil, representaria a chance de modernizar seu programa espacial, embora à custa de uma delicada equação diplomática.

A base maranhense, portanto, tornou-se um espelho da nova disputa entre potências — um tabuleiro em que cada lançamento de foguete também é um movimento político.

O futuro de Alcântara

No horizonte, o Brasil enfrenta uma escolha decisiva:
seguir o caminho da cooperação multilateral equilibrada, buscando parcerias tanto com o Ocidente quanto com a Ásia, ou alinhar-se a um dos blocos, arriscando perder autonomia.
O interesse chinês deixa claro que Alcântara é muito mais do que uma pista de lançamento — é um ativo de soberania e projeção internacional.

Enquanto as conversas avançam em silêncio, o Maranhão se transforma discretamente em palco de uma corrida pelo espaço que já não é apenas científica, mas política e estratégica.
Afinal, quem dominar Alcântara não estará apenas lançando foguetes — estará lançando influência sobre todo o hemisfério sul.

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