Alcântara: o trunfo brasileiro
O centro de lançamento maranhense tem posição estratégica: “Economiza até 30% de combustível por estar próximo à linha do Equador”. A empresa alemã Innospace já injetou R$ 50 milhões na região em apenas três meses de operações.
“Entre o primeiro dia e o final de 100 dias, a cidade era outra luz, tinha outra cor”, relatou Damasceno sobre o impacto econômico.
Em discurso na FIESP no dia 12 de março de 2025, o Brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, Comandante da Aeronáutica, apresentou detalhes sobre como a nova empresa pública ALADA pode transformar o Brasil em potência aeroespacial
ALADA: a chave para o negócio espacial
Criada em janeiro de 2025, a empresa pública será subsidiária da NAV Brasil e permitirá que recursos dos lançamentos sejam reinvestidos. “Antes, todo dinheiro ia para o Tesouro. Agora ficará no programa espacial”, explicou.
O modelo foi inspirado na Índia: “Eles nos mostraram que em 25 anos uma empresa pública pode levar um país a pousar na Lua”.
Quatro fontes de receita
Lançamentos comerciais: seis contratos já fechados para 2024
Serviços de telemetria: contrato com Kourou (Guiana Francesa) vale “dezenas de milhões de dólares/ano”
Construção de satélites: quatro famílias em desenvolvimento, incluindo o SGDC (com Telebrás)
Equipamentos de solo: mercado global de 200 bilhões/ano
Centro de lançamento estratégico
Com dois centros de lançamento privilegiados próximos à linha do Equador (Alcântara e Barreira do Inferno), o Brasil possui vantagem competitiva natural. “Quando nós olhamos o ângulo de atuação, com extrema segurança, da soma da Barreira do Inferno com Alcântara, veja então que espetáculo, que possibilidades que nós temos”, destacou Damasceno.
A localização privilegiada já atrai empresas internacionais. A sul-coreana Innospace realizou lançamentos bem-sucedidos e planeja mais seis apenas este ano.
Da burocracia ao lucro
Até a criação da ALADA, os recursos de lançamentos eram enviados diretamente ao Tesouro via GRU (Guia de Recolhimento da União), sem retorno ao programa espacial brasileiro.
“O que ocorre é que, até então, sem a empresa ALADA, esses lançamentos eram realizados a preço de custo, considerando apenas os nossos gastos. No entanto, todos esses recursos eram transferidos pela empresa via GRU, como uma guia de recolhimento para a União. Como somos totalmente orçamentados, não havia a possibilidade de transferência de qualquer fração desses recursos para a Força Aérea”, explicou Damasceno.
A mudança é drástica: “Agora, com o advento da empresa, contratos para essas empresas, como nós já temos contratos, agora é só fazer a sub-rogação dos contratos da Força Aérea para a ALADA… e as receitas revertidas ao Programa Espacial Brasileiro”.
Modelo indiano de sucesso
A inspiração veio da Índia. “Fui em julho do ano passado à Índia. E o comandante da Força Aérea Indiana falando assim: ‘Damasceno, nós éramos vocês 20 anos atrás. No começo do século, há 25 anos, o nosso investimento é muito parecido com o de vocês. Nós não éramos nada, mas criamos uma empresa pública'”, relatou o Brigadeiro.
O resultado é impressionante: enquanto a Índia investe US$ 1,3 bilhão em seu programa espacial, o Brasil continua em modestos US$ 40 milhões.
Quatro famílias de satélites
O plano brasileiro contempla quatro famílias de satélites: o SGDC (geoestacionário, já em órbita desde 2017), os Carcarás 1 e 2 (sensoriamento remoto), os futuros Carponis (satélites óticos) e a família Tigo (comunicação tática).
“Nós entendemos que após palmilharmos, que possamos conseguir empresas integradoras da indústria nacional, como o prime contractor ALADA, temos essas quatro famílias, quem sabe a gente possa um dia começar a discutir e termos uma Força Espacial”, vislumbrou Damasceno.
Retenção de talentos
A ALADA aparece como solução para um problema crônico: a fuga de cérebros. “Não adianta a gente aumentar a nossa capacidade de formação de engenheiros de alto nível quando grande parte deles vai para o mercado financeiro ou vai buscar o mercado fora do país. Tenho certeza de que essa empresa pode ser um belo veículo dessa transição dos engenheiros para a nossa indústria nacional”, afirmou.
Com o ITA em Fortaleza oferecendo novos cursos como Engenharia de Sistemas voltada à Inteligência Artificial, a ALADA completará a “tríplice hélice”: academia, indústria e governo.
Empresa enxuta com grandes planos
A ALADA não será uma gigante estatal. “A empresa não é uma construtora, a empresa é um escritório, é uma empresa pequena. A nossa ideia é que seja realmente pequena, com 30, 40 pessoas”, garantiu Damasceno, que prevê uma empresa lucrativa e não-dependente desde o início, seguindo o modelo da NAV Brasil.
O projeto foi aprovado em tempo recorde: proposto em setembro de 2024, passou por Câmara e Senado sem pedidos de vista e foi criado em janeiro de 2025. Para o Brigadeiro, isso demonstra o “senso de brasilidade” que uniu parlamentares de diferentes espectros políticos em torno da soberania nacional.
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